28/03/2005 14h49 | por Assessoria
Cidade do Vaticano (AE/AP) – Milhares de peregrinos reunidos ontem na Praça de São Pedro, no Vaticano, observaram um Papa cansado, tentando articular algumas palavras em vão, enquanto abençoava a multidão que foi vê-lo no Domingo de Páscoa. Sua breve aparição na janela, por cerca de 12 minutos, provocou comoção entre os fiéis, que o aplaudiram ao testemunhar o esforço de João Paulo II, de 84 anos, para falar no microfone – apesar de ele emitir apenas alguns sons baixos e incompreensíveis. A rede de tevê italiana RAI mostrou fiéis chorando e rezando ao ver o sofrimento do primeiro papa polonês da história da Igreja.O Santo Padre permaneceu por mais de dez minutos na janela, fazendo o sinal da cruz e saudando os peregrinos. A tradicional mensagem "urbi et orbi" (à cidade e ao mundo), normalmente repetida por ele em 60 línguas, foi lida pelo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Angelo Sodano, que também conduziu a missa de Páscoa. Pela pazNa mensagem, João Paulo II diz que as pessoas do mundo estão sedentas por "verdade, liberdade, justiça e paz" e pediu paz em áreas "banhadas pelo sangue de vítimas inocentes", como o Oriente Médio e África. Ele também pediu "solidariedade com as muitas pessoas que estão ainda hoje sofrendo e morrendo de pobreza e fome, dizimadas por epidemias fatais ou devastadas por imensos desastres naturais". Durante a cerimônia, muitos fiéis rezavam para que o Papa obtivesse "novas energias" e melhorasse. "Este Papa tem tal autoridade moral que é difícil imaginar o mundo sem ele", disse o britânico Tim Moran.Segundo o jornal oficial do Vaticano, o Observatório Romano, ser mantido distante das celebrações da Semana Santa "causou dor no Papa". Foi a primeira vez que João Paulo II não participou dos rituais em 26 anos de pontificado, conseqüência de sua condição precária de saúde após sofrer uma traqueostomia em fevereiro e pela evolução do mal de Parkinson, diagnosticado há alguns anos.Ele acompanhou as celebrações por um circuito de tevê, em seus aposentos. Na Sexta-Feira Santa, durante a Via-Crúcis, telões o mostraram para os fiéis que acompanhavam a procissão. Ele apareceu todo o tempo sentado de costas, segurando um crucifixo de madeira, sem emitir uma palavra. A última vez que falou em público foi no dia 13 de março, dia que deixou a Policlínica Gemelli, em Roma, e foi levado de volta para o Vaticano.InternaçõesJoão Paulo II foi levado às pressas ao Gemelli no dia 1.º de fevereiro. Ele ficou dez dias internado, por conta de uma laringotraqueíte e crises de laringoespasmos – fechamento da laringe que impede a passagem do ar para o pulmões, dificultando a respiração.Sua segunda internação ocorreu em 24 de fevereiro, data em que sofreu a intervenção cirúrgica na garganta. Dessa vez, João Paulo II ficou 18 dias hospitalizado e recebeu alta no último dia 13.Apesar do mal de Parkinson, o Papa sempre cumpriu sua agenda de compromissos. A última vez em que teve suas reuniões e cerimônias adiadas foi em setembro de 2003, quando cancelou sua audiência pública semanal por causa de uma doença intestinal.