Enquanto tramita o projeto de lei que cria uma Semana de Conscientização Sobre o Ciclo Menstrual, a Assembleia Legislativa do Paraná sai na frente e estará iluminada de vermelho entre 23 e 28 de maio, para apoiar a causa. O projeto será votado em redação final na sessão plenária desta segunda-feira (23) e segue para a sanção ou veto do Poder Executivo. “Além de ser um dos autores do projeto, como integrante da Mesa Executiva da Assembleia, faço questão de dar visibilidade a campanhas que desmistifiquem a menstruação, que é algo natural e que não pode ser tratada como um tabu”, afirma o deputado Luiz Claudio Romanelli (PSD), primeiro secretário da Casa.
Mas uma pesquisa feita em 2018 pela Johnson & Johnson, em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria, e que analisou como mulheres de 14 a 24 anos lidam com o período menstrual no Brasil, na África do Sul, na Argentina, nas Filipinas e na Índia, revelou que, em pleno século 21, o tabu ainda persiste, e que mais da metade das entrevistadas (54%), quase não tinham informações sobre como funciona a menarca, que é o primeiro fluxo menstrual e outras 56% afirmaram que se sentiam desconfortáveis no período da menstruação; e que, após o fim do ciclo, ficavam aliviadas. “Esse período vai propiciar que os órgãos de Governo possam promover ações que despertem a reflexão e tragam mais informações sobre o tema, afinal, todas nós passamos por isso em determinado momento da vida e isso tem que ser naturalizado”, destaca a deputada Mabel Canto (PSDB), outra autora do projeto de lei.
Segundo o mesmo levantamento, 57% das brasileiras sentem-se sujas durante a menstruação e mais de 40% ficam inseguras e se sentem pouco atraentes nesse período. O que faz com que elas mudem hábitos, como deixar de entrar na piscina, praticar esportes, sair com alguém ou mesmo sair de casa. "Como ela não se conhece, fica desconfortável e com receio de mostrar ou até mesmo, expressar, que está menstruada. E se sente incomodada de alguém perceber”, reiteram os autores.
Outro dado apontado no estudo é que duas em cada cinco meninas pedem absorventes para outras como se fosse um segredo e apenas 26% se sentem produtivas durante o período menstrual. “Além de tornar essa prática menos traumática, o nosso projeto vem de encontro à Legislação já aprovada nesta Casa, da qual sou um dos autores, que prevê a distribuição de absorventes em escolas estaduais e unidades de saúde, porque, além do tabu em torno da menstruação, grande parte das mulheres de baixa renda no Brasil e no Paraná não têm condições financeiras nem mesmo para comprar um absorvente”, conta o deputado Boca Aberta Júnior (PROS). “A ideia do projeto era que entidades fizessem as doações, mas o Governo do Estado acabou incluindo no Orçamento o valor de R$ 2 milhões para a aquisição dos absorventes. Um gesto de muita sensibilidade”, elogiou Romanelli. É que no período menstrual, 10% das meninas brasileiras em idade escolar, deixam de ir à aula justamente por não terem dinheiro para comprar absorvente. Na Argentina, o percentual sobre para 14% delas e pode aumentar ainda mais quando se trata de países menos avançados no tema como a Índia.
Pelo projeto, votado em redação final nesta segunda-feira na Assembleia Legislativa, a Semana de Conscientização sobre o Ciclo Menstrual deverá acontecer todos os anos na semana que compreender o 28 de maio. - Dia Internacional da Menstruação - e tem o objetivo de orientar, informar e conscientizar estudantes das escolas estaduais e a população em geral sobre o ciclo menstrual, como por exemplo, estabelecer um diálogo com os pais e os responsáveis para que sejam instruídos; promover a capacitação dos professores e da equipe pedagógica das escolas para a implementação das ações; desenvolver campanhas educativas, informativas e de conscientização ao longo do ano letivo que envolvam o tema; integrar a população, as organizações da sociedade e os meios de comunicação nas ações; e promover debates e reflexões nas escolas e em outros locais de fácil acesso à população, que visem essa conscientização.
As atividades da Semana de Conscientização sobre o Ciclo Menstrual, de acordo com o projeto, deverão ser desenvolvidas pela Secretaria de Estado de Saúde (SESA) e pela Secretaria de Estado de Educação (SEED). Além disso, podem ser celebrados convênios ou outros acordos com instituições públicas e privadas. E ainda, passará a integrar o Calendário Oficial de Eventos do Estado do Paraná.
Também são autores do projeto os deputados Goura (PDT); Cristina Silvestri (PSDB); Cantora Mara Lima (Republicanos); Luciana Rafagnin (PT) e Michele Caputo (PSDB). “A desinformação acaba favorecendo a baixa autoestima e o complexo de inferioridade nas meninas e mulheres. Com informações corretas e campanhas, vai ficar mais fácil lidar com isso e evitar até mesmo problemas de saúde, decorrentes da falta de orientação”, acrescenta Luciana Rafagnin.